Pular para o conteúdo principal

A grandeza de Nelson Ned

Um belo dia, em um programa de televisão (“Conexão Internacional”, da extinta Rede Manchete), Chico Buarque enviou uma pergunta para Gabriel García Márquez: “As suas preferências musicais causam espanto em muita gente, principalmente aqui no Brasil. Eu queria saber se os seus romances fossem música, seriam samba, tango, som cubano ou um bolero vagabundo mesmo?”. Com elegância e sem vergonha de suas preferências, o escritor colombiano respondeu: “Eu gostaria que fossem um bolero composto por você e cantado pelo Nelson Ned”.

Pela terceira vez (haverá ainda um quarto texto), recorro a “Eu não sou cachorro, não”, livro de Paulo César Araújo para relatar causos de nossa cultura popular. Pouco antes da resposta de Gabo a Chico, fico sabendo ainda que o Nobel de Literatura escreveu “Crônica de uma morte anunciada” ao som de canções como “Tudo passará”, do grande pequeno cantor brasileiro, cuja obra em geral é relegada aos rótulos de “cafona” e “brega” de nossa discografia.

Nelson Ned é figura conhecida para quem tem pelo menos 30 anos ou mais. Nos anos 80 e já não tão famoso, o cantor sempre aparecia nos programas de auditório mais populares, como os de Silvio Santos, Bolinha e Raul Gil. Para os mais novos, cabe uma explicação: trata-se de um homem com um vozeirão grave, apesar de seu um metro e dez de altura (característica que gerou umas 800 mil piadas e tornou seu nome um dos principais sinônimos para "anão"). Atualmente canta repertório religioso.

Recorro aos números e informações levantados por Paulo César Araújo para ilustrar a importância de Nelson Ned – independentemente da qualidade de sua obra. Ganha um LP do Benito de Paula o leitor que já tiver conhecimento de metade do conteúdo que segue abaixo:

- Durante os anos 70, Nelson Ned tornou-se um sucesso entre os latinos nos Estados Unidos e em mais 30 países, em três continentes (África, Europa e toda a América do Sul).

- Em fevereiro de 1973, ao se apresentar para 80 mil pessoas em Bogotá, quebrou o recorde de público no país, que antes pertencia a ninguém menos do que Carlos Gardel (!).

- Lotou casas de show na Cidade do México, Los Angeles, Madri, Lisboa, Johanesburgo e Nova York (Madison Square). No entanto, sua maior façanha também se deu na Big Apple: lotou em suas apresentações, em 1974, o Carnegie Hall.

- Gravou um disco com 24 músicos da Filarmônica de Miami.

- Foi o primeiro artista latino-americano a vender um milhão de cópias de um mesmo disco nos Estados Unidos.

Comentários

Anônimo disse…
Sem dúvida um artista merecedor do maior respeito. Um guerreiro!
Anônimo disse…





Sempre gostei muuuuito da voz de Nelson Ned. O que lhe faltou de altura física, sobrou (para dar e vender) beleza em sua voz.Lindas músicas, lindas interpretações.
Perdemos mais um grande cantor.O céu deve estar em festa.
Jose Vendelino disse…
Show...Nelson Ned era um show .... fantástico

Postagens mais visitadas deste blog

Os compatriotas de Woody Allen

Estava em algum site por aí hoje: O diretor americano Woody Allen considera que a maioria de seus compatriotas são gordos e sexualmente complexados. "Tudo ali é expressão do medo e da repressão sexual: a loucura religiosa, o fanatismo pelas armas, a extrema-direita louca. Eles têm uma visão da sexualidade marcada por duvidosas leis morais", afirma Allen, em entrevista antecipada hoje pelo jornal "Die Zeit". O diretor de "Vicky Cristina Barcelona" considera que o sexo é utilizado nos Estados Unidos "como uma arma dramática, assim como a violência" e que as muitas cenas de sexo nos filmes produzidos em seu país são "simplesmente entediantes".

"Vesti azul.... minha sorte então mudou"

A primeira vez que ouvi falar em Wilson Simonal foi no colégio - se não me engano, numa aula da Tia Idair, na quarta série. Por algum motivo, ela havia citado "Meu limão, meu limoeiro" e ninguém da classe sabia do que se tratava. Estupefata, ela cantarolou "... uma vez skindô lelê, outra vez skindô lalá" e tentou fazer algo no estilo que o "rei da pilantragem" costumamava aprontar com suas plateias . E deu certo. Dia desses fui ver "Simonal - Ninguém sabe o duro que eu dei", documentário muito bem feito sobre a carreira do sensacional cantor, com ênfase, claro, na eterna dúvida que o cercou desde os anos 70 até sua morte, em 2000: Simonal foi um dedo-duro dos militares durante a ditadura ou não? Pra quem não sabe do que se trata, um resumo curto e grosso: Simonal competia com Robertão na virada dos 60 para os 70 como o cantor mais popular do Brasil. Um belo dia, seu nome aparece nos jornais como delator de companheiros de profissão, alguém a serv